24 de julho de 2007

FILOSOFIA E EXISTÊNCIA


Algumas Notas para Reflexão

José Eustáquio Moreira de Carvalho


Nos últimos dez anos tenho me dedicado, com bastante afinco, ao estudo da Filosofia, especialmente nos aspectos que, de alguma forma, têm afetado enormemente o dia-a-dia das pessoas.

A bem da verdade, estou retornando à Filosofia, já que a minha primeira experiência universitária foi cursando um ano de Filosofia Pura, aqui em Brasília, em 1968.

Vários são os motivos que me trouxeram a este maravilhoso mundo do saber, mas o mais forte e determinante foi o “caos” que percebi estar vivendo o Ser Humano frente a questões relativas ao seu mundo pessoal, familiar, profissional e social. Aí incluindo uma busca desorientada de significado enquanto indivíduo, enquanto pai ou mãe, enquanto profissional e enquanto participante (ou não) do mundo ao seu redor. Enfim um grande problema de existência. Ou, do ponto de vista filosófico, uma permanente crise existencial.

Antes de começar verdadeiramente, a tarefa de estudar este “caos” fiz uma viagem panorâmica sobre o que estava acontecendo com a Filosofia e o que ela tinha apresentado ou estava apresentando, em termos práticos e de fácil acesso e uso, para a população em geral.

Minha surpresa só não foi maior, porque busquei entender das regras e do comportamento no ambiente acadêmico. A Filosofia tinha se encastelado na Academia e só a ela servira até a penúltima década do século passado.

Ainda que a partir deste período tenha surgido um forte movimento pela “volta” da prática filosófica, a Academia tratou de se proteger estabelecendo dois campos de ação: a Filosofia Analítica e a Filosofia Prática. E, claro, preferiu seguir no seu pedestal se apossando da Filosofia Analítica e condenando a Filosofia Prática. Não favorecendo em nada a ampliação da demanda por matrículas nos cursos que ofereciam, já que a forma de tratar os assuntos da Filosofia continuou como sempre foi: entediante, de difícil entendimento, de forma pouco útil ou aplicável, além da aparência sempre superior dos mestres.

Não satisfeito com este quadro de dicotomia me aprofundei um pouco mais e “descobri” que esta foi uma forma de garantir “espaço” e manter poder sobre o saber filosófico, já que esta divisão não apresentava utilidade sob nenhum outro ponto de vista.

Ainda que em alguns filósofos precursores existisse uma grande componente de análise e toda sorte de questionamentos sobre tudo no Universo, seus pressupostos tinham como objetivo final servir às pessoas ou, pelo menos, aos discípulos no seu cotidiano da vida. Naquilo que importava para a sua existência. Naquilo que tivesse utilidade imediata.

Basta ver apenas duas definições de Filosofia apresentadas por dois grandes filósofos separados no tempo por quase dois milênios:

1 – Platão (427-347 AC): “Filosofia é o uso do saber em proveito do Homem. Uma ciência em que coincidam fazer e saber utilizar o que é feito”
2 – Descartes (1596-1650): “Filosofia é o estudo da sabedoria... Um perfeito conhecimento de todas as coisas que o Homem pode conhecer, tanto para a conduta da sua vida quanto para a conservação de sua saúde...”.
Nesse mesmo sentido, poderemos buscar também junto a apenas dois importantes nomes da Filosofia definições do que é ser Filósofo:
1 – Thoreau (1817-1862): “Ser Filósofo não é meramente ter pensamentos sutis, nem mesmo fundar uma escola... É resolver alguns dos problemas da vida, não na teoria, mas na prática”.
2 – Nietzsche (1844-1900): “Filósofo é um Homem que constantemente vive, vê, ouve, suspeita e sonha... coisas extraordinárias”.

A grande questão que, para mim, fica sem uma resposta adequada é: porque não se usa, ou se tem usado tão pouco, abordagens tão práticas e claras para o Homem comum como estas? Aliás, quase nada diferente do que filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles ensinava e praticava com os seus discípulos.

O mundo há muito vive em permanentes crises de etnias, religiosas, políticas, econômicas e muitas outras, que tem tornado a existência bastante dificultada em vários pontos do Universo. A ponto de ser comum a expressão “a humanidade está perdida”. Prefiro considerá-la sem “eixo” ou sem um norte para onde converja.

A visão lógica diz e apresenta uma realidade inquestionável: a Filosofia é posterior à existência, e o seu surgimento está ligado às questões existenciais. Desse modo essa mesma visão deveria apontar na direção de uma maior atuação no lugar onde a vida, a existência, acontece: no aqui e agora, que é muito maior do lado de fora do que do lado de dentro da Academia. E é onde o Homem experimenta todas as sensações de conforto ou desconforto com os acontecimentos que vivencia, gerando para si mesmo ou permitindo que de fora diversos fatores o levem ao “caos” mencionado no início.

Desse ponto de vista levanto alguns temas existenciais onde a Filosofia e os Filósofos, especialmente os da Academia, deveriam tê-los em suas pautas de forma mais presente levando a uma atuação também mais marcante.

Não sei da Academia ou dos Filósofos, mas eu paro para pensar e questionar quando:

- formadores de opinião, autoridades inclusive, particularizam a ética para justificar ações ilegais ou que servem apenas para prejudicar os semelhantes;
- uma mãe é presa por espancar uma criança de apenas 45 dias por que ela chora sem parar; também quando outra mãe que perde um filho envolvido em crimes, estupefata diz: “onde foi que eu errei?”;
- vejo crianças serem “tratadas” com Ritalin por que foram identificadas como portadoras da Síndrome de Distúrbio da Atenção e Comportamento; também quando se generaliza a rotulação de qualquer mal estar como síndrome, significando a possibilidade de, mesmo que não apresentemos problemas de saúde (física ou mental) de sermos enquadrados como portadores da Síndrome da Ausência de Doenças;
- relacionamentos sem casamento duram para sempre e casamentos de mais de 30 anos terminam ou duram a vida toda sem que haja efetivamente um relacionamento;
- pais, frente a dificuldades em “administrar” os filhos dizem: “não sei mais o que fazer, entreguei pra Deus”;
- encontro pessoas que, em situações adversas dizem: “estava escrito e assim tem que ser, é o meu carma”;
- vejo marchas pela paz e não violência, repletas de pessoas carregadas de mágoas, ressentimentos e até mesmo de ódio;
- jovens se especializam em concursos na busca da “realização dos seus sonhos” através do emprego que melhor pague e não através do emprego que melhor lhe proporcione condições para se tornar um grande Ser Humano.

Como se vê todas são questões do nosso dia-a-dia e que afetam, das mais variadas formas, a vida do Planeta e para as quais, não tenho dúvidas, a Filosofia tem muito a contribuir nas soluções. Bastaria apenas que os seus “executores” focalizassem a sua visão na busca do que cada Filósofo ou Escola Filosófica tem de melhor para dar suporte a elas. Desse modo estaríamos, ao mesmo tempo, retomando a finalidade básica da Filosofia e a forma de atuação dos seus grandes mestres.

15 comentários:

tereza caniatti disse...

adorei , mas ja faço parte do seu fão clube e ai é tendencioso. mas super interessante sua reflexão e se me permite, o que falta nas pessoas é um principio. seja qual for, porque vejo na religião e principalmente , na minha, o mahikari, uma proposta de vida, de felicidade, de querer bem, de fazer o bem e ai o resto é tudo consequencia. beijos e continue seu projeto, é fantástico.
tereza caniatti

Geizinha disse...

Querido Eustáquio estou po enquanto apenas fazendo um teste como me foi pedido, depois eu faço o comentário a respeito do seu blog, mas de antemão te desejo toda a sorte e sucesso que vc merece, que vc possa alcançar todos os seu objetivos. Um grande abraço,
Geizi

Sandra Galvão disse...

É isso mesmo meu querido amigo...
É preciso filosofar para quem sabe provocar um entendimento maior deste mundo maluco, divergente e tão apaixonante em que estamos todos inseridos...
Gente que ama gente, que mata gente, que ensina gente, que provoca gente, que esquece que é gente...
Mundo contenporâneo, mundo da adversidade e da convegência, com tantos e tão poucos...
Amei...
Você é show!
Um abraço carinhoso da amiga de Cuiabá.
Sandra Galvão

Unknown disse...

Gostei do enfoque que você deu nos diferente assuntos, realmente se todos os seres humanos parassem para refletir seja nas coisas mais simples da vida como nas mais complexas, com certeza o mundo seria bem melhor. Muitas vezes procuramos culpados das situações que nos acontecem, esquecendo que tudo se inicia em nós. Queremos mudar o mundo mas esquecemos da nossa responsabilidade em construi-lo a cada dia. Continue seu projeto e conte comigo, estarei sempre ao seu lado, mesmo distante fisicamente. Beijos.

Mcmatheus disse...

Muito interessante e polêmico os itens abordados em seu blogger. Imagino, que com o passar dos tempos os valores foram sendo alterados quase que imperceptíveis pelo homem. Ele deixou de cultuar o amor ao próximo, perdendo também completamente a noção de suas responsabilidades essenciais. Em nome de uma ética que mal sabem o seu significado, ele passou a viver em luta constante para o sucesso financeiro e interesses próprios que se esqueceu de valorizar o seu próprio "eu". Este assunto é muito complexo...e você soube escolher bem um problema atual que estamos vivenciando em nosso dia-a-dia. Parabéns e desejo-lhe sucesso.

Olga Tessari disse...

Parabéns pelo seu blog, sua forma de expressão é excelente!
Serei uma assídua frequentadora!
Olga Tessari
www.ajudaemocional.com

Unknown disse...

É sempre importante darmos uma pausa na nossa rotina e olhar o caminho que estamos traçando. Atualmente as pessoas atropelam sua vida, e não se dam conta que sonhos, prioridades, planejamentos ficaram esquecidos. Filosofar e ter conteúdo nas esplanações é algo que você, José Eustáquio, tem bagagem, estudos e experiência para compartilhar com todos nós. Parabéns pelo espaço e pela dedicação em sempre trazer ao público a oportunidade de conhecer e o campo da filosofia.
Grande Abraço do Filhão.

Anônimo disse...

Eustáquio,
você é mais uma voz que se levanta no deserto. A humanidade que está 'desumanizada' precisa de vozes que clamam ao amor.
A filosofia não deve ser ensinada em Academias, pois elas defirem da idéia das escolas filosoficas nas quais as pessoas se reuniam aos pés de alguém que pensava bem e falava de forma articulada.
Também me considero uma voz que clama. Tenho certeza que um dia seremos tantos que acontecerá uma mudança na maneira do pensar e agir das pessoas.
Parabéns por mais uma iniciativa. Receba um grande abraço do seu amigo e companheiro de jornada.
Ernesto F. Mandelli

Lindolfo disse...

Parabens pela iniciativa e pelo conteudo do blog. Não se poderia esperar nada menos do que a profundidade de tratar assunto tão relevante, porem esquecido pela grande maioria,vvindo de uma mente previlagiada como a sua.
Um grande abraço de um eterno admirador!!!!

blog da cacau disse...

Sempre será mais importante, fazer com que as pessoas pensem com suas próprias cabeças, do que dar a elas respostas prontas.
Parabéns pela iniciativa.
Um abraço da sua sobrinha, Cláudia.

Dani disse...

Acho que herdei um pouco do seu lado filosófico... Parabéns pelo Bloog e MUITO SUCESSO !!! Torço muito por vc !!! Admiro muito vc !!! Obrigada por tudo !!!

Anônimo disse...

Prezado Eustáquio,
Quando Jostein Gaader esteve em Belo Horizonte enfrentei uma fila enorme para ver de perto um filósofo da atualidade. E agora, lendo o seu texto, posso dizer que já conheço dois.
Parabéns pelo seu projeto. Desejo-lhe sucesso. Um abraço.
Olívia
11 ago 07

Anônimo disse...

Prezado amigo J.Eustáquio
Primeiramente felicito-o pela feliz iniciativa na busca de solução para nossos problemas existenciais.
Na minha concepção de vida e com a intenção de disseminar alternativas para sintetisar o atual conhecimento humano sugiro que busquemos o conteúdo na majestosa obra " A Grande Síntese" de Pietro Ubaldi pelo seu profundo conteúdo filosófico, social e científico.
Tomo a liberdade de externar aqui a opinião de alguns renomados expoentes cientistas, filósofos, jornalistas... etc

"A GRANDE SÍNTESE oferece solução plausível a todos os problemas do universo — desde a estrutura do átomo e a com¬posição química da vida, até os métodos de ascensão mística; desde a Relativi¬dade e a gênese do Cosmos, até as mais novas ques¬tões religiosas e soci¬ais e os mistérios da psique humana (...). A nota chave do livro é a as¬censão espiritual."
Isabel Emerson — Escritora e Jornalista da Revista Light, de Londres, Inglaterra.

"A GRANDE SÍNTESE: trata-se, realmente, de uma grande síntese de todo o saber humano, considerado do ponto de vista positiva¬mente transcendental, em que se estudam todos os ramos do saber, sendo esclarecidos e resolvidos numerosos pro¬blemas até hoje insolú¬veis, com o acréscimo de novas orientações científicas, além de conside¬rações filosó¬ficas, religiosas, morais e sociais, a tal ponto elevadas que induzem a reverente assombro."
Ernesto Bozzano — Médico, Cientista, Filósofo e Escritor italiano.

"É Admirável a força da linguagem e a vastidão dos assuntos tratados em A GRANDE SÍNTESE."
Albert Einstein — o gênio da física e Autor da Teoria da Relatividade.

"A doutrina desenvolvida em A GRANDE SÍNTESE não é so¬mente uma síntese do atual conhecimento humano, reduzido em face dos problemas substanciais, mas constitui uma síntese da fenomenologia universal, isto é, a coordenação num organismo único dos fenômenos existentes que o concebível humano pode apreender e ainda além."
Gino Trespioli — Escritor e fundador da Biosofia na Itália.


"A GRANDE SÍNTESE é um sistema de filosofia científica e tem, também, um conteúdo ético. É uma obra benéfica em larga escala, equa¬ciona e resolve a tarefa de iluminar as consciências num momento histó¬rico decisivo de grande amadurecimento em todos os campos. Tem, pois, um alcance também social e se insere como força viva na renova¬ção espiritual para a qual o mundo se prepara laboriosamente. Quem ler esta obra, nessa profundidade, ouvirá ecoar aí as grandes correntes de pen¬samento, as titânicas forças cósmicas do imponderável que circunda o mundo."
L.F. — Escritor e Jornalista da revista La Ricerca Psichica,
de Milão, Itália.

"Todos nós temos o vago sonho de encontrar um LIVRO que nos seja como uma casa definitiva - a casa de sonho que pro¬curamos. Um livro no qual moremos, ou passamos a morar. (...) Pois creio que encon¬trei o MEU LIVRO. Ele chama-se A GRANDE SÍNTESE de Pietro Ubaldi. Temos de lê-lo e relê-lo. Lendo-o estou a vagar no alto mar deste livro — tonto, deslum¬brado, maravilhado!"
Monteiro Lobato — Jornalista e Escritor brasileiro, consagra-do até no exterior, pelo conteúdo e simplicidade de seus livros.

Anônimo disse...

Meu querido amigo, você está mesmo de parabéns pela iniciativa e também pelos dois textos que acabo de ler. Eu, cá do meu canto, já desisti de me incomodar com a tal de Academia. Mas isso é papo pra mais depois, que agora o sono me obriga a somente registrar que aqui estive e que gostei. Prometo voltar e dar meus pitacos. Beijo grande. Norma

Anônimo disse...

É realmente um diferencial pensarmos na Filosofia como essa ferramenta de busca do conhecimento aliada à sua ação, como pensavam os pitagórigos. Infelizmente temos perdido muito do seu significado, que foi substituído pelas "fábricas de pensadores", que hoje em dia, estão circunscritos em debates de idéias, críticas e teses, mas têm muita pouca conexão com a vida prática. Precisamos de uma filosofia que nos humanize, que busque um ideal de vida, que nos identifique como seres humanos, para que o cotidiano da vida não perca seu sentido, e que a sobrevivência não tenha tanta primazia no homem como tem nos animais.
A Filosofia deve ser sempre uma busca, nunca uma finalidade em si. Por isso, busquemos então a nossa Filosofia de Vida!

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